Terça-Feira, 19 de Dezembro de 2023 @ 07:32
São Paulo - Movimento pelo controle do ambiente de multimídia nos automóveis pode gerar oportunidades para o rádio FM
Nesta última semana, o mercado acompanhou mais uma escalada na possível queda de braço entre montadoras automotivas e as big techs, especificamente em relação aos produtos Apple CarPlay e Android Auto. Um executivo da General Motors destacou questões de segurança para justificar a retirada desses sistemas dos veículos produzidos pela montadora que ele representa. Além disso, há um plano das marcas automobilísticas de assumir a venda e execução de mídia nesses ambientes, reconduzindo o usuário/motorista para o ecossistema desenvolvido pela própria montadora. Neste cenário, o rádio, que tem total interesse neste mercado, observa atentamente.
O tudoradio.com já havia reportado em abril que a GM estaria desenvolvendo um novo sistema para substituir o CarPlay e o Android Auto, curiosamente com o apoio do Google, responsável pelo Android, uma das big techs afetadas pela iniciativa. Essa substituição gradual em futuros veículos elétricos também gerou dúvidas sobre a eficácia e a segurança desses sistemas de espelhamento de tela.
Tim Babbitt, executivo da GM, citou questões de segurança como a principal razão para a remoção dos sistemas. Ele argumenta que falhas técnicas podem distrair os motoristas, elevando o risco de acidentes.
Para substituir esses sistemas, a GM desenvolveu o software Ultifi, que integra aplicações populares como o Google Maps e Spotify, além de oferecer funcionalidades avançadas por meio do Google Assistant. O objetivo é manter o motorista concentrado na direção, eliminando a necessidade de usar o celular.
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Há também questões econômicas e estratégicas envolvidas, conforme já destacado pelo tudoradio.com. A GM e outras montadoras visam controlar os dados gerados pelos veículos e explorar novas fontes de receita por meio de serviços de assinatura.
Este movimento pode beneficiar o rádio FM, que tradicionalmente mantém uma boa relação com esse setor e costuma ser uma presença marcante nesses ambientes. Muitas marcas colaboram com o setor de rádio para desenvolver soluções, com ênfase recente no rádio híbrido.
A GM planeja gerar lucros significativos com serviços por assinatura integrados ao seu sistema Ultifi. Além disso, a montadora já planeja expandir serviços como o OnStar em seus novos modelos elétricos, que não incluirão o Apple CarPlay e Android Auto, mas sim um sistema baseado no Google.
CarPlay executando uma emissora de rádio nos EUA (Wild 94.9 de San Francisco): crédito: tudoradio.com
Montadoras tomando o controle do ambiente, cenário que o rádio observa de perto
Como já destacado pelo tudoradio.com, cada vez menos interessa às montadoras a padronização de sistemas conectados, como aqueles oferecidos pela Apple e pelo Google, através do CarPlay ou do AndroidAuto. Isso não proporciona uma experiência distinta entre as marcas. Diante desse cenário, as montadoras correm para criar seus próprios sistemas conectados, com suas características únicas, e o rádio precisa estar atento a isso, para continuar sendo integrado da melhor maneira possível.
No entanto, por enquanto, a população em geral aprecia a experiência proporcionada pelos smartphones nesses ambientes e, até o momento, não desejam abrir mão dessa opção. Painéis da NAB Show 2023 voltados para a área de rádio destacaram essa situação, repercutida também pelo tudoradio.com por meio de sua cobertura do congresso e participação na Retrospectiva NAB Show 2023 realizada pela AESP, no primeiro semestre deste ano..
Haverá muito menos carros vendidos nos próximos 25 anos, alerta Richard Windsor, fundador da Radio Free Mobile. "Não haverá uma única fabricante original de equipamentos (OEM) que poderia sobreviver a isso", disse ele em entrevista à empresa HERE360. Segundo ele, a única resposta é encontrar uma nova fonte de receita - e a melhor oportunidade é ser o principal fornecedor dos serviços digitais que estão chegando aos carros.
Executivos que representam o meio já tem se aproximado e atuado em conjunto com a indústria automobilística. E a resposta sobre essa aproximação sempre foi positiva. O motivo? O receptor de rádio é um dos elementos de multimídia que as marcas automotivas querem personalizar, buscando a melhor experiência. Isso dá uma liberdade para as empresas ao criarem os seus sistemas, assim como já descreveu o tudoradio.com em um artigo recente sobre receptores automotivos digitais.
Já a presença de um sistema padronizado como o CarPlay, que não embarcava o rádio via ondas terrestres, era algo visto como um possível problema para os executivos e radiodifusores. Após um anúncio da Apple sobre uma maior integração com o hardware dos veículos, o que permitiu a entrada do FM nesse sistema, essa situação acabou ficando um pouco mais confortável para as emissoras, já que nos dois cenários (multimidia das marcas automotivas vs. Apple CarPlay) o rádio foi contemplado.
O assunto "rádio no carro" é fundamental para todas as frentes envolvidas. Isso ocorre devido ao fato dos consumidores desejarem pelo receptor AM/FM em seus veículos na hora da compra de um automóvel e também pelo tamanho do consumo de rádio nesse ambiente, que segue hegemonico nos principais mercados do planeta.
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Na entrevista publicada pela HERE360 e repercutida pelo tudoradio.com em junho passado, Windsor afirmou que as montadoras têm algumas vantagens. Os sistemas integrados podem oferecer uma experiência melhor para os consumidores do que usar seus smartphones. E há uma série de oportunidades para lucrar com serviços digitais. Eles incluem serviços relacionados ao transporte, como serviços de estacionamento inteligentes.
A publicidade digital, direcionada ao consumidor, é outro serviço. E isso também abre um leque de possibilidades ou competição para as emissoras de rádio, de acordo com análises feitas em fóruns acompanhados pelo tudoradio.com. Existem vários testes e até práticas de uso de emissoras de rádio para direcionamento inteligente de publicidade em veículos conectados, seja nos EUA ou na Europa, conforme já repercutido pela redação do portal.
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No entanto, tudo isso depende das montadoras acertarem a tecnologia neste momento crucial, segundo a reportagem da HERE360. "A coisa mais urgente que eles precisam fazer é descobrir uma maneira de criar uma experiência de usuário que seja envolvente, divertida de usar, fácil de configurar, consistente de um veículo para outro e que permita a terceiros desenvolverem aplicativos", disse Windsor. "Corrija isso e você estará no caminho para a recuperação.", finaliza.
Exemplo de sistema próprio de montadoras em seus veículos conectados / crédito: HERE
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Com informações do Jornal do Carro e da HERE
Daniel Starck é jornalista, empresário e proprietário do tudoradio.com. Com 20 anos no ar, trata-se do maior portal brasileiro dedicado à radiodifusão. Formado em Comunicação Social pela PUC-PR. Teve passagens por rádios como CBN, Rádio Clube e Rádio Paraná. Atua como consultor e palestrante nas áreas artística e digital de rádio, tendo participado de eventos promovidos por associações de referência para o setor, como AESP, ACAERT, AERP e AMIRT. Também possui conhecimento na área de tecnologia, com ênfase em aplicativos, mídia programática, novos devices, sites e streaming.